Saudade, Napoli

Vale-Niti
2 min readApr 12, 2024

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Em navios, eles vieram. Estão naquele aperto do peito, aquele em que não os conheci. Sou o resultado de várias gerações perdidas. Minha carne tem o gosto italiano e minha alma diz: sono io, sono io. E, as poucas palavras que sei, são as que me restam.

Minha alma é livre, mas meu corpo não. Meu corpo está aprisionado pela liberdade da alma. Eu sou o que poderia ser, mas não sou — é um paradoxo, eu posso ser tudo, mas não sou nada. Não tenho todos os sonhos do mundo. Eu posso parecer pessimista, afinal eu sou. Eu sou um desfiladeiro que se rompe e destroça o vilarejo.

Eu destruo tudo que é bom, saudável, quieto. Eu sou o fragmento de um mundo que poderia ser, eu sou a probabilidade do que seria se eu lidasse corretamente comigo. Mas, não. Minha neurose, meus complexos, meu inconsciente. Não acredito nos sonhos, sou egóico e narcísico. Me amo, mas digo me odeio. Minto aos outros com histórias de amor e bobagens, mas eu sou um completo cafajeste.

Assim como os homens anteriores a mim, eu falho em viver. Eu falho em descobrir que eu sou alguém. Eu falho por falhar, por mentir.

Eu estou exausto. Eu sou o culpado de tudo o que me ocorre — eu criei todas essas tragédias. Eu tento… eu tento estabelecer um dialogo com esse homem interno, com essa figura gigantesca que vive dentro de mim, mas ele só se manifesta nos destroços.

Esse homem, negro, alto, com seu casaco de pele — ele me assombra (ele é minha sombra). Essa ideia-homem marcada de uma vitória que não vem, onde há um punhal e uma dama: morte. Eu sou o culpado de tudo. E se permito, dou voz à esse homem feroz.

Diz ele que se não confiar na Itália que vive em ti, nunca amará alguém. Se pensar em como seu corpo é inútil, sendo que é forte como os mil homens que vieram antes de ti, perderá. Mas, você é falho. Você se sabota. (E nesse momento, ele me encosta as mãos), sou tudo que você não consegue ser.

Pergunto a ele, o que devo fazer? E ele me diz, enquanto caminha ao meu redor, com seus sapatos de couro, seu pisado forte: seja você mesmo. E eu respondo, quem sou eu? E ele diz, você é poderoso, glorioso.

E, recorro à ela, a Mãe de Todos, ela diz: eu amo você, mas seja cauteloso.

Eu sou de Deus, Dela e do Diabo.

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Vale-Niti

Meus textos são medianos, meus poemas são rasos e meu vocabulário é limitado — mas eu continuo escrevendo.