Esse não é um escrito comum, ele é vago. Em termos físicos, não existo. O escrito que se encontra nestas linhas é imaterial. A imagem banha as linhas de um pesar não filosófico. As linhas acompanham a sombra de cavaleiro montado em um alazão: sou como Quixote, um bastardo alucinante.
Em minha cela não escrevo para os vivos, escrevo para os mortos. Minha pequena obra se refere ao trágico. Cogito ergo sum. Dou minha vida ao povo para ser esquecido. Carrego a tristeza em caixa alta: REALIDADE. Não posso ser o caminho dela. É com pesar que me entrego ao metafísico. Somente no além posso adivinhar e testar o corpo que me materializa. Não sou a imago que nomeia. Me olho no espelho e digo: tu não és 1% do que há em dentro de ti.
A alma é a concepção mais arriscada creditada por mim aos vivos. Dei a palavra para que se comunicassem. Dei a costela para que amassem. Dei a flora para serem diversos, estarem onde quisessem e se atirassem de onde pudessem. Assim como meu pai, viciei-me na carne. Que pífio é o corpo que comporta tanta energia invisível. O corpo é o começo. Pouco me importo com as lanças, elas podem me perfurar. Minha mãe pode subir aos céus. Meu pai é o pai de todos. Sou a trajetória da queda dos céus. Quando cortam minha carne, o céu chora. Quando digo aos homens que padecem ao meu lado, que iremos à morada do pai, eles gargalham. Sabem que a justiça dos homens é a errata da razão. Ao invés da correção, se espera a ação. A mão perfurada do filho relembra a carne em seu sinal mediúnico: apenas uma puta foi capaz de manter o filho do criador em terra.
Minha morte é o fardo dos homens. Mas, e para mim? O que importa? Morri e vi o Diabo em pé, ao meu lado. E Madalena, o que fizeram dela? Quero que meu corpo esteja aqui para que se cruzem e se penetrem. Duas almas que necessitam do gozo para que o imaterial esteja em perfeita harmonia com seu oposto.
Tolo são os homens que não se embebedam com o amor.
Eu permanecerei em carne para que morra como meus iguais.
Ele está ao meu redor.
