Veraneio

Vale-Niti
2 min readFeb 26, 2023

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os filhos nascem
o cão morde o pescoço do galo
provo da virgem
o sangue
me enforco
decepo o falo

é chegada a hora
transmutar entre os parentes
libertar do que me liga à ela
fora de mim:
umbigo terráqueo
trevas e luz

sei meu caminho
descubro que meu calcanhar
aquele tão próximo aos deuses
é nascente para teu carinho

quando me vejo
entendo-me
quando te vejo
confundo-me
minha confusão é desleal
quando lhe beijo
tua carne macia
tua bunda enorme
vai e vem sobre minhas coxas
teus seios
aqueles que dizes serem pequenos
são eles que me alimentam

tu me guiou pelo dia
abriu suas pernas
chupou-me ao relento
gozou com meu frágil corpo

reconheço uma bala fora de mim
perdida no espaço
em maioria
acredito que essas balas
corriqueiras no além
deveriam atingir minha cabeça
balela
esquecia quando te fodia de 4

em hécate tu faz tua morada
a tríplice coroa
seus dentes serrados
seu cabelo bagunçado
seus olhos atentos
quanta dor não deve ter sentido

sinto que não serei teu cavaleiro
nem tu serás minha rainha
tão opostos e corpulentos
seres tão distintos
como tinto e seco
ainda assim
só sei dançar contigo

que corpo maldito que tens
essas pernas grossas
essa buceta carnuda
esse afeto que me adormece
tu és do mato
sois do pó
do pó voltarei
digo
bruxa e satânica
eu, cristão
somos o proibido
eu, quem lhe queimaria
tu, quem me amaldiçoaria

tuas iguais já se deitaram comigo
meus iguais já lhe amaram e odiaram
porque estamos aqui
nesta cama
com medo
se sabemos que
devemos terminar o que começamos

se eu corresse por esta porta
teus gatos comemorariam
nossas férias vão chegar ao fim
assim como os verbos que uso
ao me referir ao teu corpo

seu corpo nu
seus brincos
sua cama bagunçada
o que eu deveria sentir
se não a alegria
de me deitar com um
ser que não é azul

tua ponta chega ao fim
espero gozar dentro de ti
o dia de amanhã
veremos
sem nome
apenas bruxaria e fé

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Vale-Niti

Meus textos são medianos, meus poemas são rasos e meu vocabulário é limitado — mas eu continuo escrevendo.